A Saga (Parte 3)
- AMDF

- 30 de dez. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 5 de jul. de 2024
por Khelly Corrêa
(...continuação)
O tempo passava e eu me afastei. Fui trabalhar, estudar e atender minha família. Problemas pessoais me mantiveram totalmente alheia às questões sociais e cenário político durante anos.
Mas, depois de tanto tempo sem envolvimento nas nossas causas, ao final de 2020 fui chamada para uma reunião na ADEVEMAR (Associação dos Deficientes Visuais de Maringá), onde os candidatos à prefeitura municipal apresentariam suas propostas.
Qual a minha surpresa ao ver que o vereador que conheci na Câmara Municipal, Ulisses Maia, era o atual prefeito e agora candidato à reeleição.
Na sede da ADEVEMAR, para conhecer as propostas dos candidatos às eleições municipais em Maringá. Presentes, entre outros, os candidatos a vereadores Anderson, professora Ana Lúcia, e para a prefeitura Mário Verri e Ulisses Maia.
Os candidatos apresentaram suas propostas. Ouvimos atentamente e Rubens nos contou, ao final da reunião, que Ulisses era o candidato que havia prometido construir o nosso condomínio (nossa casa!) na sua gestão. E que em troca, claro, todos apoiaríamos a sua candidatura à reeleição. Justificando, seu Rubens concluiu:
— Estamos lutando há 15 anos para a construção desse condomínio, que já passou pela Câmara de Vereadores sob a lei do vereador Zebrão. E Ulisses Maia disse não ter havido, até então, vontade política para essa tão importante política pública em prol do Condomínio PCDs.
O slogan de Ulisses Maia falava em "mudanças" que já havia iniciado na sua primeira gestão, com sucesso, e soava forte para uma população que queria exatamente isso, mudanças!
Mas estávamos em plena pandemia. Ulisses Maia, o atual prefeito, tinha agora como opositor Silvio Barros, que sustentava sua volta à prefeitura.
Todos concordamos. Vestimos a camiseta e assumimos a nova postura política ante a atual realidade, a pandemia. Ainda assim, ele foi reeleito!
Em seguida à sua reeleição, num encontro no terminal urbano, Ulisses Maia cumpriu um desafio que aceitara da Rede Massa de Televisão, afiliada do SBT em Maringá. O desafio era um convite a viver a experiência de centenas de trabalhadores que enfrentam diariamente os transportes públicos superlotados em horário de pico. Ele compareceu.
Coincidência ou não, eu estava lá. Vi um aglomerado de pessoas em volta de alguém e, no minuto seguinte, eu era levada pela multidão. Os presentes, munícipes que se apressavam a me ajudar, tomaram o comando da minha cadeira de rodas e colocaram-na no espaço para PCD's no ônibus adaptado!
Nesse dia, antes de chegarmos no destino final, eu disse ao prefeito o seguinte:
— Senhor Prefeito Ulisses Maia, quero perguntar-lhe, em rede nacional e internacional: o senhor vai mesmo construir o condomínio para as pessoas com necessidades especiais? E a resposta:
— Sim, Khelly, vamos construir!
— Muito bem!, continuei. Gostaria de dizer, também, que falo em nome dos amigos que estão precisando de moradia por 'n' motivos. O principal é por não terem condições de pagar um aluguel com seus salários tão baixos e Maringá com aluguéis tão caros, e mais os problemas de terem que morar com seus familiares. No entanto, estão dispostos a aguardar um pouco mais, até que o senhor organize sua agenda, gestão... enfim!
— Diga-lhes que vamos começar agora!, ele respondeu.
Vi sinceridade e convicção nas palavras do então prefeito de Maringá-PR. Uma breve despedida e levei a resposta aos amigos, tendo sido designada a coordenar o projeto do Condomínio PCD's.
Tomei como uma ordem. Afinal, eu assumira o cargo de secretária da AMDF. O Sr. Paulo Silva assumira a presidência. Seu Rubens, João Luis, Heloisa, Odilia, Ademir e outros amigos de Rubens ocupavam os demais cargos.

Membros da AMDF em reunião por acessibilidade (da esquerda para a direita): Leila, João Luiz e Heloísa (minha melhor amiga em Maringá).
O tempo passava e problemas, aos milhões, se debruçavam sobre a mesa de todos os envolvidos, enquanto as reuniões se sucediam, abalando a confiança de quem dependia tanto da concretização daquele projeto.
Apesar de todos os problemas e da burocracia, o maior deles, exposto pelo CMDPD, era o entendimento de que o Condomínio PCD's seria uma habitação "exclusiva".
Caros senhores, exclusividade é o que não temos, nos projetos insuficientes dos governos de cima para baixo!
A morosidade e a desesperança levaram João Luis. Ele falecera. Melhor amigo de seu Rubens. O lamento foi de dor. E o momento, de prostração! O tempo, não sei precisar, mas pareceu uma eternidade, até que Rubens saiu daquele triste estado, auxiliado por seu Paulo Silva, que se tornara seu fiel companheiro.
E a saga continuava! Heloisa adoecera gravemente e eu temia... minha melhor amiga em Maringá! Passei dias com ela, na rua, na sua casa e no hospital. Dormi ao lado dela. Uma guerreira! Mas o fato é que rapidamente a morte também a levou… tão jovem!

Eu, Khelly, e minha querida amiga-irmã, Heloísa, em mais uma das festas da ADEFIS (Associação dos Deficientes Físicos de Sarandi).
O luto que vestimos era a tristeza que, por dias e dias, não saía, não sarava, não passava. O cinza daqueles dias que se seguiram sem ela dizia da nossa melancolia, pois jamais voltaria. Agora eu me apoiava em Rubens e chorava a minha tristeza. Parecíamos mais sozinhos, mais fracos e desanimados. O tempo passava e nós não... continuávamos estagnados.
O tempo passava e mais uma gestão terminava, e vinham os políticos nos lembrar que o tempo passa e que blá-blá-blá. Frágeis e carentes, éramos inocentes na arte da política, feita de pessoas tão indiferentes, saberíamos, um dia.
E seguimos perseguindo o sonho de morar no condomínio. Para confirmar nosso sonho possível, o ilustre prefeito em seu segundo mandato lutava conosco para derrubar a tese do CMDPD de que o Condomínio seria “exclusivo”.
E a luta pelo Condomínio era quase diária. Quando ouvia Rubens falar que tal amigo estava em situação de falta de moradia e que ele já estava desacreditando do fato de o condomínio acontecer, eu tomava para mim aquelas dores, aqueles pesos, e seguia no firme propósito e confiança.
Numa reunião com o CMDPD sobre o condomínio (e aqui estão as imagens!), para que levassem o projeto adiante ou nos explicassem o porque de tanta resistência, nos disseram:
— Se votássemos pelo condomínio, de onde sairia a verba para a construção?
"Boa pergunta", pensei. — Quem saberia?, perguntei.
— O prefeito. Mas esse você esquece! Já o chamamos para outras reuniões e ele nunca veio.
— Posso tentar? Os olhares serpentearam pela sala e senti os arrepios de quem é amada e odiada quase na mesma proporção.)
Eu, Khelly, e seu Rubens ... oh! que dia de luta que foi esse com o CMDPD para aprovação do Condomínio PCD's.











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